Sócrates
No nosso país, após a revolução do 25 de Abril, houve uma classe de pessoas que se quis acrescentar às muito poucas famílias a que Salazar deu o privilégio de poderem "ter", de serem economicamente abastadas, quando congeminou o sistema do condicionamento industrial, criando monopólios e protegendo-os de uma sã concorrência, que é a característica de uma economia de mercado.
Aquela classe de pessoas, ao tempo da ditadura, até podiam ter ideais de justiça social e de liberdade e, sem dúvida, muita dessa gente contribuiu para a criação das novas condições políticas de democracia instaurada após a revolução dos cravos. Mas lá no fundo, germinava ao mesmo tempo uma revolta e uma aspiração a poderem vir a partilhar uma parte do bolo do poder económico e social com a antiga casta intocável da ditadura.
Tudo isto está assente no mais básico do ser humano que, resumidamente, se pode designar como a procura da felicidade. Infelizmente, e com o passar do tempo e da prática democrática no novo regime, o aspecto que veio a vingar foi, e dada a dificuldade em implementar os ideais mais nobres do ser humano (a palavra utopia passou a ter uma conotação depreciativa, quando antes era motivo de mobilização e exaltação), aquilo que foi vencendo foi o segundo aspecto - uma vez desistidos da utopia, haveria então que procurar a felicidade na tal partilha do bolo, na procura do "ter". Mas como este "ter" nunca satisfaz totalmente o ser humano (depois do fiat vem o ford, depois o jaguar, depois o ferrari, depois o rolls royce...etc), aquilo que se foi estabelecendo foi o domínio do aparelho de estado para satisfazer esta fome insaciável de mais e mais poder, mais e mais riqueza.
Temos, portanto, hoje, a par das velhas famílias ricas, uma nova classe de gente na política e no estado e suas empresas, completamente afastada da realidade do resto do povo, da maioria da classe média que vê a vida a deteriorar-se ao longo dos anos, após um primeiro período em que obteve melhorias de vida significativas.

Tudo isto se deve à procura da felicidade lá onde ela não pode ser encontrada de forma durável. No mundo das coisas materiais tudo é transitório e o "hipe" do poder tende cada vez mais a transformar-se em desastre pessoal para a vida dos envolvidos que verão o seu nome na lama, depois de serem atirados para práticas cada vez mais imorais e mesmo ilegais para satisfazer o seu "drive" infinito para mais e mais...
Ter ou não ter - será a questão?
Shakespeare deixou outra afirmação à humanidade, muito mais certa, muito mais verdadeira quanto àquilo que está na base da verdadeira satisfação humana. "Ser ou não ser - eis a questão!".

Depois dela, verdadeiros marcos do conhecimento humano em várias tradições culturais repetiram-no vezes sem conta para quem quisesse ouvir: Sócrates (o original), Platão, Confúcio, Buda, Jesus Cristo, Shankara, etc., etc.
Na actualidade, tivemos até há muito pouco tempo, Swami Brahmananda Sarasvati e Maharishi Mahes Yogi, que nos deixaram uma forma prática e fácil de chegar ao tal Ser, de o experimentar diariamente, e de o incorporar, através da prática regular da técnica de Meditação Transcendental, na prática da nossa vida diária.

Budha

Jesus
Neste aparente beco sem saída a que chegámos como povo e como projecto, há pois uma luz ao fundo do túnel! A melhor forma de lidar com as questões práticas da vida de uma pessoa ou de um povo, é retirarmo-nos primeiro para o silêncio do nosso Ser interior, tal como o arqueiro, que para atirar a seta à maior distância, a puxa primeiro no arco alguns centímetros para trás. Quando o fazemos regularmente, e quando isso passa a fazer parte da nossa rotina de vida, estamos a estabelecer um novo paradigma de acção, em que a luz desse Ser ilumina naturalmente o conjunto da nossa actividade, tanto a nível individual como colectivo. Com menos stress e mais luz interior, a vida torna-se mais fácil, os problemas, quaisquer que eles sejam, dissolvem-se nas soluções simples e naturais que nos surgem de dentro.

Maharishi
Talvez , portanto, esta crise em que estamos todos a deixar que a nossa consciência desague, seja o novo ponto de partida para um novo projecto de povo, um projecto que, no entanto, se tem mantido sempre na alma dos mais sensatos e sensíveis de entre os nossos melhores. Muitos políticos, por esse mundo fora, estão a entrar nesta nova consciência da realidade. Mais tarde ou mais cedo, e, quanto mais não seja, por arrasto, também os nossos políticos acordarão para a nova e velha realidade, que está aí mesmo, dentro de si! Esse será o momento, o "turning point", em que a política será a arte da felicidade, de criar a felicidade do povo e deixar que a felicidade invada a vida privada e a vida social, cumprindo-se assim a razão da vida: ser feliz!
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