Sunday, September 17, 2006

Fé e Razão

A Propósito do Polémico Discurso do Papa numa Universidade da Alemanha

Racionalidade e fé são termos aparentemente contraditórios. Ou seja, a fé pertence ao domínio do irracional ou do pré-racional. Este casamento da fé com a racionalidade do questionamento filosófico e/ou teológico foi feliz porque ele é uma parte mais ampla do que a mera fé ou a mera racionalidade, a que podemos chamar consciência. No entanto, este casal não é o único habitante da casa da consciência. Esta - o conhecedor e o criador... de sentimentos e pensamentos - é mais do que a soma de todas as suas funcionalidades. Abrange mesmo a potencialidade ou possibilidade de conhecer, o Ser. Encontraremos assim, para além da fé e da razão, o crente e o conhecedor de coisas e de ideias - o sujeito que observa objectos.

Neste processo, podemos assim identificar um conhecedor ou sujeito (Rshi), um conhecido ou objecto (Devata)e, uma mecânica, um processo, que liga o sujeito ao objecto de conhecimento (Chandas).

Esta mecânica ou processo que liga o sujeito ao objecto do conhecimento pode ser de natureza racional ou intuitiva.

No entanto, quando o objecto de conhecimento passa a ser o sujeito conhecedor, dá-se uma unificação dos três elementos num só. O termo védico para esta unificação é Samhita. Quando o sujeito é conhecido pelo sujeito,todo o conhecimento é simultaneamente sujeito, objecto e processo. Esta seria a realidade da consciência que se conhece. O tal "Eu sou" - o Ser.

A vantagem de se aliar a fé à racionalidade está em identificar outro elemento da consciência , para além do da racionalidade, como essencial no processo de conhecer. Uma nova dimensão do conhecimento é ganha, que acrescenta ao intelecto o transcendente e que responde ao que aquele não é capaz. O intelecto é frio, lógico, discriminativo; na fé há calor, sentimento, totalidade. No Ser há razão, fé e intuição transmutada no silêncio da resposta que satisfaz totalmente o inquiridor. Satisfação, paz.

É assim que o cristianismo nos aparece como uma evolução em relação às formas de obter conhecimento ligadas às culturas que não fizeram vencimento na história. No entanto, o cristianismo, como cultura, está também em crise, na medida em que já não responde às necessidades de conhecimento dos dias de hoje. A racionalidade descobriu-o numa luta para impôr a sua superioridade que usa meios não condicentes com a moral. A fé descobriu-o como mais uma das possibilidades de Deus e desconcentrou-se.

Estamos na transição para a cultura em que a descoberta do "Eu que é" encontrará o homem cósmico usando toda a sua potencialidade cognitiva e criativa para finalmente criar e viver num mundo como o que todos imaginamos ser possível, de realização individual e colectiva, mas que o uso parcial do nosso potencial de consciência tem condenado persistementemente ao fracasso, até hoje. Só essa expansão cognitiva permitirá perceber o homem que somos, o planeta que somos, o sistema solar que somos, a galáxia que somos, o Uni-Verso que somos (destas duas vertentes - unidade e diversidade - passaremos a viver mais no paradigma da primeira, ao contrário do que acontece até hoje, onde o paradigma é o da segunda). Voltaremos ao que era antes e que nunca deixou de lá estar - o mais antigo, o primeiro, o uno; e de lá, poderemos voltar a criar mais e mais vezes, sem limite, toda a diversidade recreada no silêncio desta serena unidade.

Monday, April 10, 2006

A Era da Dignidade Humana

A experiência proporcionada pela Meditação Transcendental é a experiência de um quarto estado de consciência, a consciência pura ou consciência transcendental.

A técnica para experimentar naturalmente este estado de consciência foi arredada do processo educativo normal nas nossas sociedades. Mas este conhecimento tem existido desde sempre com o homem e tem sido especialmente mantido na tradição de mestres Védicos da antiga Índia.

Nos últimos 50 anos, Maharishi Mahesh Yogi tem dedicado toda a sua vida a divulgar e introduzir a Meditação Transcendental em todo o mundo - ela está agora disponível na maior parte dos países, como forma sistemática de experimentar diariamente, duas vezes por dia, este quarto estado de consciência.

Esta experiência da Consciência Transcendental é da maior importância para o ser humano, e a indisponibilidade de uma técnica como esta no sistema educativo está na base de todo o sofrimento e miséria espalhados por toda a parte.

O Ioga é o valor unificador do conhecimento védico, ou conhecimento total. O termo sânscrito Veda significa “o conhecimento” ou conhecimento total. Este conhecimento inclui três elementos fundamentais. Rishi (conecedor), Devata (o conhecido) e Chandas (o processo de conhecer). O conhecimento total é o conhecimento da unidade (samhita) destes três elementos – o Ser auto referente, absoluto e transcendental.

Tal como uma árvore se desenvolve a partir do vácuo existente no seio de uma semente, também todos os aspectos relativos da vida se desenvolvem a partir do Ser. O Ser imanifestado manifesta-se em todos os aspectos mutáveis da vida sem deixar de permanecer como Ser imutável e transcendental.

O Ioga proporciona o conhecimento do conhecedor, enquanto entidade que concentra em si a potencialidade plena de todos os aspectos que podem ser criados e conhecidos e, também, os aspectos que dizem respeito ao próprio processo do conhecimento.

A MT é a ferramenta que proporciona a experiência do Ser de forma sistemática, na rotina do dia a dia. Ao fecharmos os olhos para meditar, a mente inicia um processo de experiência que a conduz dos níveis da superfície em direcção aos seus níveis mais profundos e calmos, transcendendo sucessivamente aspectos mais refinados da actividade de pensar até chegar à experiência do nível que transcende (está para além) mesmo o aspecto mais refinado de todos do funcionamento da mente. Esse nível é o nível do Ser, em que a consciência é máxima mas em que já não é consciência de pensamentos, antes de si própria, da sua própria realidade silenciosa e transcendental, da sua própria natureza de bem-aventurança e plena satisfação. A mente individual ganha a qualidade de mente cósmica, ilimitada – Brahm, ou Ser. É no Ser que a mente adquire o seu estatuto cósmico e está totalmente satisfeita. E só uma mente totalmente satisfeita está totalmente em paz.

Só esta experiência regular da Consciência Transcendental confere pleno sentido à consciência dos aspectos relativos da existência. Ao meditarmos regularmente, 20 minutos de manhã e à tarde, estamos a fazer crescer em nós a consciência do Ser, tornando-o cada vez mais presente na consciência dos seus aspectos relativos e parcelares. Este é o processo de iluminação, que deve passar a constar de todos os curricula de ensino, como garante de uma nova era, a Era da Iluminação, em que iremos entrando na medida da nossa vontade de mudar o curso do mundo, de cada vez mais miséria, sofrimento, guerra e aniquilação, para cada vez mais abundância, felicidade e dignidade humana.

Tuesday, April 04, 2006

Sat Yuga

Maharishi tem um programa mundial para criar o Céu na Terra. A consciência de que a Terra está no Céu e de que o Céu está na Terra deveria ser a consciência normal de todos os seres humanos. No entanto, vivemos ainda limitados pelos paradigmas de uma consciência parcelar e restrita da realidade. Na verdade, há Céu que chegue para todos assim como há Terra que chegue para todos, não havendo razão para disputas na procura de poder sobre as coisas do Céu e da Terra que estão a causar a maior miséria material e espiritual em centenas de milhões de nossos semelhantes.


A fome e a miséria, o atraso no acesso aos benefícios do progresso científico e tecnológico, que afligem mais de metade da populaçao do mundo, bem como a infelicidade e a depressão experimentadas por grande parte da populaçao dos países considerados desenvolvidos, dão-nos a medida de como uma consciência pouco desenvolvida (parece haver unanimidade entre psicólogos de que a maioria das pessoas apenas consegue utilizar uma pequena parte do seu potencial mental) está a tornar o homem refém das suas próprias limitaçoes actuais. O terrorismo e a guerra, bem como a criminalidade são apenas a consequência mais visível e terrível desta realidade.

A introdução da Meditação Transcendental no ocidente, aliada à investigação científica que sobre esta técnica tem sido levada a cabo em inúmeras das principais universidades e institutos de investigaçao em todo o mundo, oferece-nos uma oportunidade única para entrarmos definitivamente numa nova era de conhecimento, com consequências inimagináveis para o verdadeiro e pleno desenvolvimento da raça humana. De facto, a investigação mostra que, com a prática regular da MT e de outras técnicas relacionadas, é possível ao homem aumentar a sua inteligência e a capacidade para usar plenamente o seu próprio potencial mental e, ao fazê-lo, expandir a consciência, transcendendo sucessivamente novas limitações.

Esse é o caminho para chegar à consciência do Ser que, antes mesmo de ser qualquer coisa em concreto do campo observável da vida, é ele mesmo, enquanto capacidade e plena potencialidade para ser tudo o resto. Essa realidade daquele que é, do que conhece, do sujeito no processo do conhecimento de objectos, é ela própria possível de ser conhecida, através do uso adequado da mente. E é quando o sujeito se conhece a ele próprio, quando o processo de conhecimento está unificado na consciencia que o sujeito tem de si próprio, que se abrem todas as possibilidades e potencialidades de realização humanas, de conhecimento de tudo o resto.

Esta capacidade de se conhecer a si mesmo e, dessa forma, conhecer tudo o resto, é o bem mais precioso desde sempre perseguido pelo homem. E é a era científica que está a permitir ganhar esta premência de conhecer o Ser, como forma de sair do beco sem saída a que nos levou a consideração de que o conhecimento verdadeiro é tão só o conhecimento "objectivo", ou dos objectos. Todo o conhecimento cai pela base quando o conhecedor é desconhecido. As teorias mais avançadas da física, que nos falam do campo unificado, um campo onde todos os outros campos estao incluidos, reconhecem agora que esse campo tem obrigtoriamente que incluir não só tudo aquilo que pode ser "objecto" do conhecimento, mas também... o próprio sujeito do conhecimento. Caso contrário, algo permaneceria no exterior - o observador, o conhecedor, o Ser.

O conhecimento do Ser é o conhecimento da base onde assenta tudo aquilo que é ou pode ser conhecido, todas as formas de obter conhecimento e, também, a totalidade do próprio conhecedor. A experiência desta totalidade de conhecimento é a experiência da bem- aventurança absoluta, da paz e da felicidade interior. É a realização do homem na sua unidade consigo mesmo e com o universo, o seu pleno potencial de homem pacífico e plenamente satisfeito.

Só este estado de realizaçao permite ao homem criar de facto o Céu na Terra, e entrar definitivamente numa nova era, a Era da Iluminaçao, Sat Yuga, onde não há lugar para o sofrimento e ignorância, onde os recursos disponíveis são suficientes para a satisfação de todos e onde o trabalho é tão somente uma forma de dignificação e realização do homem, onde não há lugar à exploração e agressão de fortes contra fracos e onde o espírito e alma humanos são definitivamente reconhecidos na sua verdadeira dignidade, que é a dignidade do próprio Criador.

Criar o Céu na Terra é fazer desabrochar em todo o seu esplendor a consciência do Céu, que está, realmente, sempre presente na nossa vida terrena.