Friday, July 09, 2010

CONHECIMENTO VÉDICO

“Estabelecido no estado de Ioga, ó Dhanandjaya (o que alcança a riqueza) – Arjuna-, tendo abandonado o apego e tendo ganho o equilíbrio no sucesso e no fracasso, pois que ao equilíbrio da mente se chama Ioga, realiza as acções.”

O texto acima é uma tradução da estrofe 48, segundo capítulo, do Poema do Senhor (Bhagavad Gita), “parte da maior epopeia da Índia e do Mundo: Mahabarata (Grande Ìndia), que contém 100 mil estrofes, formadas por 400 mil versos, distribuídos por 18 Livros e que, a par do Ramayana, constitui a arquitectura épica da monumentalidade linguística da Índia. O Bhagavad Gita, podemos considerá-lo, é um concentrado de toda a sabedoria védica (contida nos Vedas) e o núcleo da espiritualidade hindu. “De todos os textos sagrados da humanidade, não há provavelmente outro que seja tão grande, tão completo e tão curto” – alguém disse”. (António Barahona)


Abaixo, transcrevo o comentário de Maharishi Mahesh Yogi a esta estrofe do Bhagavad Gita.

“O Ioga, ou união da mente com a inteligência divina, começa quando a mente adquire a consciência transcendental; o Ioga alcança a maturidade quando esta consciência transcendental de bem-aventurança, ou Ser divino, conquista terreno na mente a um ponto tal que, seja qual for o estado em que se encontra, quer em vigília ou no sono, ela se mantém estabelecida no estado de Ser. É a este estado de iluminação perfeita que o Senhor se refere no início da estrofe, quando diz: ‘Estabelecido no estado de Ioga’. No fim da estrofe ele define ‘Ioga’ em relação à acção como ‘equilíbrio da mente’. Este estado de equilíbrio da mente é o resultado do contentamento eterno que surge com a consciência de bem-aventurança. Não é adquirido criando um estado de espírito de equanimidade na perda e no ganho, como a generalidade dos comentadores pensou.
O Ioga é a base de uma vida integrada, um meio de colocar em harmonia o silêncio criativo interior e a actividade exterior da vida, e uma forma de agir com precisão e sucesso. Estabelecido no estado de Ioga, Arjuna será estabelecido na realidade última da vida, que é a fonte da eterna sabedoria, poder e criatividade.
Parte do treino para alguém que queira ser um bom nadador consiste na arte de mergulhar. Quando conseguimos manter-nos com sucesso no fundo da água, então, nadar na superfície torna-se fácil. Toda a acção é o resultado do jogo da mente consciente. Se a mente é forte, então a acção é também forte e bem sucedida. A mente consciente torna-se poderosa quando os níveis mais profundos do oceano da mente são activados durante o processo da Meditação Transcendental, que conduz a atenção da superfí-cie da mente consciente até ao campo transcendental do Ser. O processo de mergulhar no interior é o caminho para se ficar estabelecido no estado de Ioga.
Quando o senhor Krishna diz que, tendo passado por este processo, Arjuna devia vir para fora e agir, ele está a dar-lhe a mecânica da acção bem sucedida. Para disparar um arco com sucesso, é preciso primeiro puxar a seta para trás, dando-lhe assim grande energia potencial. Quando a seta é puxada para trás o mais possível, então ela tem o maior poder dinâmico.
Infelizmente, a arte da acção exposta aqui pelo senhor Krishna a Arjuna, parece ter desaparecido da vida prática nos nossos dias. Isto acontece por, durante muitos séculos, devido à falta de uma interpretação correcta destes versos, ter sido considerado difícil conduzir a mente até ao Ser e permanecer estabelecido no estado de Ioga. É, de facto, perfeitamente fácil conduzir a atenção ao campo do Ser: apenas temos que deixar a mente mover-se espontaneamente do campo grosseiro da experiência objectiva, através dos campos subtis do processo de pensar, até à realidade última e transcendental da existência. À medida que a mente se move nesta direcção, começa a experimentar uma atracção maior em cada passo, até chegar ao estado de consciência de bem-aventurança transcendental.
A recompensa por trazer a mente a este estado está em que a pequena mente individual cresce até ao estatuto da mente cósmica, elevando-se acima de todos os seus defeitos e limitações. É como um pequeno homem de negócios que enriquece e atinge o estatuto de multimilionário. As perdas e ganhos do mercado, que antes o influenciavam, já não têm efeito nele que se eleva muito naturalmente acima da sua influência.
O Senhor quer que Arjuna aja, mas pretende que ele, antes de iniciar a acção, adquira o estatuto de mente cósmica. Esta é a sua bondade. Quando uma pessoa rica quer que o seu filho inicie um negócio, ela não quer, normal-mente, que ele comece em pequena escala, porque sabe que, dessa forma, as pequenas perdas e ganhos terão influência no seu querido filho, fazendo-o sentir-se mal, ou feliz, por pequenas trivialidades. Portanto, dá-lhe o estatuto de pessoa rica e, então, pede-lhe que inicie o negócio a partir desse nível. O senhor Krishna, como pai bondoso e capaz que é, aconselha Arjuna a atingir o estado de inteligência cósmica e então agir a partir desse elevado estado de liberdade na vida.
Uma pessoa não se pode manter em equilíbrio na perda e no ganho se não estiver num estado de contentamento duradouro. Aqui, o Senhor está a pedir a Arjuna que obtenha esse estado de contentamento duradouro através de uma experiência directa de bem-aventurança eterna e transcendental. Ele não está a aconselhar um mero estado de espírito de equanimidade. O estado de bem-aventurança transcendental no Ser eterno é tão auto-suficiente que, na sua estrutura, é absoluto. É plenitude de vida, perfeição de existência e, portanto, completamente desligado de tudo o que pertence ao campo relativo, completamente livre da influência da acção.
Quando o Senhor diz: ‘Tendo abandonado o apego’, ele quer dizer tendo ganho este estado do Ser eterno, que é, na sua totalidade, separado e desligado da actividade. E quando ele diz: ‘Tendo ganho o equilíbrio no sucesso e no fracasso’, quer dizer tendo atingido a estabilidade neste estado do Ser eterno.
A prática regular da Meditação Transcendental é o caminho directo para ascender ao estado do Ser transcendental e estabilizá-lo na própria natureza da mente, de modo que, quaisquer que sejam os envolvimentos nos conflitos inerentes às diversidades da vida, a estrutura de unidade em liberdade eterna é naturalmente mantida e a vida não se perde dela própria”.

A definição de Ioga resumida na estrofe do Bahgavad Gita e o comentário e desenvolvimento da responsabilidade de Maharishi Mahesh Yogi, fornecem-nos a chave para a utilização do pleno potencial da mente humana – 100% do valor relativo e 100% do valor absoluto. Como dois lados da mesma moeda, estes dois valores da experiência podem e devem estar presentes na mente consciente. Tal como a raiz de uma árvore, escondida na terra, a sustenta e constitui a base estável dessa árvore, também o valor absoluto sustenta e é a base estável de todos os aspectos relativos (visíveis) da vida. Viver a vida apenas com a consciência do nível relativo da actividade é viver uma vida em ignorância da totalidade. É viver com uma consciência mais ou menos desenvolvida dos aspectos visíveis e observáveis, mas sem a consciência do aspecto invisível e inobservável – o Ser. A experiência do Ser é a experiência do que observa. Ioga é a experiência estabilizada e unificada do Ser que observa e dos objectos da experiência do campo relativo da vida. Ioga é um estado de vida integrado, em que ambos os aspectos da consciência, relativo e absoluto, estão presentes, por oposição ao estado limitado de ignorância, em que apenas está presente a consciência de aspectos parciais, ou ilusórios, da realidade. Devido a problemas de educação, o campo do Ser tem estado afastado da experiência individual, originando mentes limitadas e incapazes de abarcar a essência da realidade. Este facto está na origem da frustração e infelicidade que singram no seio dos povos da Terra. Na origem da ignorância, da ganância, da arrogância, da prepotência, mas também do medo, da miséria humana, da indignidade.

Os problemas sociais têm origem na ignorância individual. Pode dizer-se que o estado do mundo é que cegos são governados por cegos. O sistema de educação, na generalidade das nações, promove o conhecimento proporcionado pela experiência dos sentidos e ignora o conhecimento proporcionado pela experiência do Ser puro e transcendental. O conhecimento de apenas um lado da moeda está na origem do desentendimento entre povos, da desconfiança generalizada e do medo que são responsáveis por guerras sempre novas, terrorismo e todas as chagas sociais.

Este desconhecimento acontece, como disse, devido a uma deficiente educação; como afirma aqui Maharishi, por ter sido considerado difícil conduzir a mente até ao Ser e permanecer estabelecido no estado de Ioga. Devido à deficiência de interpretação, a experiência do Ser foi considerada muito difícil de conseguir. Considerou-se, assim, que só alguns, muito poucos, o poderiam conseguir, usando para isso a reclusão ou ascetismo e afastando-se do resto da sociedade.

A tradição de mestres védicos do conhecimento, plenamente incorporada na vida de Sri Guru Dev, Swami Brahmananda Saraswati, Jagadguru, Bhagwan Shankaracharia de Jyotir Math, nos Himalayas, e iluminadamente transmitida ao mundo por Maharishi Mahesh Yogi, surge-nos, neste novo milénio, na fórmula da Meditação Transcendental e do Programa de MT-Sidhis, como a chave para a desmistificação de que o conhecimento da totalidade da realidade suprema é apenas para alguns eleitos, retirados em mosteiros, mesquitas, sinagogas, pagodes, ou grutas nos Himalayas.

Este conhecimento surge, na sua própria dignidade, como a real oportunidade de democratização da verdadeira educação, a educação plena do indivíduo, em que o conhecimento dos objectos dos sentidos é obtido à luz da experiência do sujeito do conhecimento, do conhecedor, o Ser eterno e omnipresente. A experiência do Ser na mente individual é fácil e simples e pode ser obtida por qualquer pessoa, independentemente do seu nível de poder, riqueza ou conhecimento intelectual. Esta é a oportunidade da nossa era. Este conhecimento do conhecedor, o védico samitha de Rishi, Devata e Chandas, a unidade de conhecimento que constitui o conhecimento do conhecedor, o conhecimento do conhecido e o conhecimento do processo que liga o conhecedor ao conhecido, é o libertador por excelência de todas as competências que conduzem à acção correcta espontânea.

É a ausência do conhecimento do conhecedor que é responsável pelas acções erradas. A nossa história provou já à saciedade que não são as injunções de carácter moral nem os códigos éticos e comportamentais das várias religiões, nomeadamente a judaico-cristã, que conseguem garantir essa acção correcta. Apesar de terem muitas vezes o seu comportamento balizado e limitado (tanto a nível consciente como inconsciente) por tais códigos, a verdade é que, ao longo de milénios, as nossas sociedades têm permanecido na senda do comportamento individual e social errado. Apesar das advertências para fazer o bem, o homem continua a deixar-se dominar pelo mal. Não parece haver lei nem código que resista a esta tendência para o mal que se manifesta a todos os níveis da sociedade. Com isto não quero dizer que os códigos e leis sejam, em si, maus. Não. O que falta é a educação total do indivíduo, única forma de levá-lo a agir correctamente, quer a nível individual, quer a nível social, ecológico, etc. Só a experiência do Ser puro, transcendental, omnipotente e omnipresente, ao nível da consciência individual, e a sua estabilização em todos os outros estados de consciência, vigília, sono e sonho, pode garantir o sucesso na acção. E esse sucesso surge de forma espontânea com a prática regularda Meditação Transcendental, facilmente e sem esforço.