Tuesday, March 01, 2011

A devoção a Deus acontece no nível do Ser, não no nível do pensar, Humbolt, 1970.

P: Na introdução que faz ao seu comentário ao Gita, o senhor salientou, sobre Shankaracharya,  que "na ausência do sol, tomam lugar as estrelas mais pequenas" e eu gosto muito dessa frase.

MAHARISHI: você gosta porque é verdade. Todos os dias podemos ver que quando o sol se põe, as estrelas tomam o seu lugar. Essa é a nossa experiência de todos os dias. Todos os dias, no céu, isto continua a acontecer.

P: Na ausência de Shankara, da forma como ele expôs o Vedanta, estarão Ramanuja e os outros (comentadores) correctos?

MAHARISHI: O principal erro de Ramanuja e Madva e todos os outros foi o de menosprezarem a percepção transcendental. Ao advogarem a devoção, eles menosprezaram esta consciência pura e estabeleceram o seu campo da devoção no nível de 'pensar em Deus' - cantando a Deus, rezando a Deus, pensar a toda a hora em Deus.

A devoção é algo do campo do Ser. Vivemos isso na vida. Não temos necessidade de dizer "amo-te tanto" e não temos que passar o tempo a dizer "amo-te tanto". O amor é uma coisa no nível da vida. Nós vivemos isso... vivemos isso espontaneamente - particularmente, o amor ilimitado cujas ondas são tão grandes que chegamos a sentir o toque de Deus.

O amor é uma coisa da vida. Está no nível do Ser. E desligar o Ser do campo da devoção é levar a devoção a perder a base... é como construir um castelo no ar. Não é possível. Não é possível estabelecer o campo da devoção independentemente da percepção pura.

Quando estas pessoas começaram a expôr sobre a devoção, elas limitaram-se a permanecer no nível do elogio de Deus. Se a nossa consciência estiver saturada da consciência de bem-aventurança, se o o nosso coração e mente estiverem cheios com aquela consciência pura, então a canção de Deus é apenas uma onda de bem-aventurança.

Só quando a consciência é universal, é que estes cânticos e estas preces têm um significado, ao contactarem com aquele campo do Todo-Poderoso. Caso contrário é apenas pensar e glorificar o banco, mas permanecendo no mercado. Choramos pelo banco, ficamos no mercado e pensamos no banco e telefonamos para o banco e elogiamos o banco e fazemos todo o tipo de coisas na rua do banco. Mas se não entramos no banco, o banco não nos vai ser particularmente útil.

Quando estas pessoas depois de Shankara começaram a glorificar a devoção, eles não salientaram este aspecto da consciência transcendental, e devido a isso, os seus seguidores, mesmo que embalados numa predisposição para a devoção, sentiram algumas ondas de felicidade nesses estados de espírito, mas não conseguiam chegar à iluminação que a devoção traz - não conseguiam chegar à Consciência de Deus, que é a meta de toda a devoção.

E, portanto, eles não duraram. "eles não duraram" quer dizer, o seu ensinamento permaneceu ineficaz - apenas permaneceu ineficaz. E as pessoas foram dissuadidas de continuar a desperdiçar o seu tempo chorando por Deus ou querendo a Deus ou todo o tipo de coisas que foram catalogadas de prática devocional, mas que resultaram em estados de auto-convencimento. É um desperdício de vida...

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