Wednesday, March 02, 2011

O Samadhi é o princípio e o fim do Ioga

por NEIL DICKIE em 30 de JUNHO, 2010


Este artigo é para as pessoas do Ioga - para os milhões de pessoas que redescobriram esta antiga mas, no entanto, muito sofisticada abordagem ao exercício. Dezenas de milhões adoptaram o Ioga porque é mais suave e delicado para o corpo e, no entanto, divertido e desafiante, e eficaz na promoção do bem estar. As pessoas também apreciam o Ioga devido ao seu efeito de quietude da mente. O ritmo calmo da prática do Ioga e a focalização nos detalhes concretos de alongamentos, de equilíbrio, respiração, ajudam-nos a esquecer as preocupações de uma vida agitada e a desfrutar do momento presente.

Embora a prática das posturas de Ioga ("asanas") seja bastante agradável, muitos praticantes suspeitam que poderiam levá-la a um nível superior, aprendendo a integrar mais o corpo, a mente e  espírito através da experiência da meditação profunda. Há uma boa razão para pensar que a meditação pode transformar o Ioga, que é uma coisa boa, em algo ainda melhor. Por isso é que praticamente todas as escolas de Ioga recomendam a meditação, pelo menos teoricamente. Mas os estudantes do Ioga desistem muitas vezes da ideia da meditação, talvez por temerem a dificuldade de adoptar uma disciplina de aço e uma capacidade de concentração do tipo laser, que é assumida como essencial para o sucesso.


Uma razão que leva muitos a considerarem a meditação como uma prática difícil é a ideia errada comum que existe sobre o sistema de oito membros, ou
 Ashtanga, do Ioga que foi estabelecido no respeitado texto Sutras de Ioga de Patanjali
No texto dos Sutras de Ioga, os oito membros do ioga são apresentados na seguinte ordem:

1) os cinco yamas, ou virtudes pessoais, tais como o ahimsa, ou não-violência, e o satya, o ser verdadeiro

2) os cinco niyamas, ou regras de vida, nomeadamente,saucha, purificação, e swadhyaya, estudo

3) pranayama, práticas de respiração

4) as asanas, posturas de Ioga

5, 6, 7) os três estados da prática mental, pratyaharadharana dyana, ou meditação

8) Samadhi, a união da mente agitada e pensante com o seu nível mais profundo, mais silencioso, o campo unificado da consciência, o Ser. Pense-se numa onda individual que se aquieta para experimentar o oceano ilimitado.

No entanto, apesar de o termo Ashtanga se traduzir por oito membros, e não oito passos ou estadios, muitas pessoas pensaram que Patanjali queria dizer que a sua abordagem de oito membros deveria ser praticada apenas num processo de passo a passo, uma ordem sequencial, começando com as virtudes pessoais e observâncias, e culminando na meditação com o objectido de atingir o samadhi.

Maharishi Mahesh Yogi criou uma agitação na comunidade mundial do Ioga, há cerca de 40 anos, quando deambulou pelo mundo ensinando o programa da Meditação Transcendental, uma técnica simples e de fácil aprendizagem que oferece a experiência directa do samadhi. Maharishi ensinava todos os interessados, mesmo que novos no Ioga. Na Alemanha, uma delegação de Ioguis encontrou-se com Maharishi e questionaram-no àcerca deste assunto.

Maharishi deu as boas-vindas à delegação e começou por estabelecer uma base comum de entendimento com eles - respeito pela autoridade de Patanjali. Mas depois explicou a sua perspectiva de que Patanjali tinha, devido à passagem do tempo, passado a ser mal interpretado. A ordem da sua famosa apresentação do Ioga em oito membros tinha, disse ele, sido colocada ao contrário do que seria a sua intenção. "A prática do Ioga era entendida como começando no Yamanyiama (as virtudes seculares) e assim por diante," disse Maharishi, "quando, na realidade, deveria começar pelo samadhi. O samadhi não pode ser alcançado pela prática de Yamanyiama, etc. A proficiência nas virtudes só pode ser adquirida através da experiência repetida do samadhi." Por outras palavras, é um erro pensar que uma melhor moral e comportamento é requerida para chegar ao samadhi; ao invés, Maharishi afirmou que um melhor comportamento e moral surge como resultado da experiência daquele nível da vida mais unificado e bem-aventuroso.

Por exemplo, Maharishi afirmou que só é possível progredir verdadeiramente  no ahimsa, ou não-violência, à medida que se cresce na consciência de que há uma unidade comum a todas as coisas. Esta realidade unificada da vida é experimentada directamente no samadhi. Da mesma forma, disse ele, asteya, ou o estar contente com o que se tem, só pode ser verdadeiramente alcançado quando nos sentimos totalmente contentes, e a felicidade interior mais estável surge através da experiência repetida do campo eterno da consciência de bem-aventurança, no samadhi.

Consciência de bem-aventurança: este é o nível mais alto a que o Ioga nos leva. Ioga quer dizer união. Uma definição de Ioga é união do corpo, mente e respiração. Embora apenas isso possa ser suficiente para trazer bons resultados, há um nível mais elevado do seu significado: a união da mente pensante, ou o "s" ser menor, com o Ser maior, consciência cósmica. O resultado disso, de acordo com os Sutras do Ioga, é verdadeira bem-aventurança.

Comentando a experiência da união com o Ser através da meditação, Maharishi diz: "a intensidade da felicidade está para além do superlativo. A bem-aventurança deste estado elimina a possibilidade de qualquer sofrimento, grande ou pequeno. Na luz brilhante do sol nenhuma escuridão consegue penetrar; nenhum sofrimento pode entrar na consciência de bem-aventurança, nem esta consciência pode conhecer nenhum ganho maior que ela própria. Este estado de auto-suficiência (suficiência do Ser) deixa-nos rapidamente em nós próprios, preenchidos de contentamento eterno." (da tradução e comentário de Maharishi ao Bhagavad Gita, 6:20)

Voltando ao facto de as pessoas poderem pensar que este processo natural e bem-aventuroso é difícil - infelizmente, tal como a meditação é muitas vezes ensinada, esta ideia pode parecer correcta. Patanjali define Ioga como "o aquietar completo da mente" (Sutras do Ioga, 1.2). No entanto, porque muitos tipos de meditação ensinados hoje em dia envolvem algum grau de concentração, esforço, controlo, eles tendem a impedir que a mente se aquiete completamente. O programa de Meditação Transcendental, ao contrário, é a técnica de nada fazer - não envolve tentar nada de nenhuma espécie, e portanto, permite que o meditante mergulhe no interior de si mesmo.

Mas será que uma meditação que é fácil e não envolve esforço é "real", e conduz à iluminação? Sim. Muitos compreenderam mal a simplicidade da MT. O programa de Meditação Transcendental é, na realidade, o renascimento da meditação na sua forma pura e original. É simples e fácil porque é natural - e está de acordo com a natureza fundamental da mente e do corpo. Essa é também a razão porque é tão eficaz. A natureza é sempre extremamente eficaz. Por exemplo, todo o movimento na natureza segue o caminho da acção mínima ou do mínimo esforço. Da mesma forma, quem pratica a técnica de Meditação Transcendental, mergulha sem esforço na profundidade da mente.

O cultivar deste que é o mais alto dos membros do Ioga estimula toda a árvore do Ioga como nenhuma outra coisa. Os praticantes de Ioga que acrescentam a prática da Meditação Transcendental à sua rotina diária relatam que isso lhes adiciona uma dimensão de silêncio profundamente satisfatória, de consciência e de benefício na sua prática de asanas, e de gozo da vida. O samadhi  é, ao mesmo tempo, o princípio e o ingrediente essencial de uma prática do Ioga verdadeiramente satisfatória. 

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