Tradução minha
Henry David Thoreau
1817–1862 • Estados Unidos da
América
Henry David Thoreau tinha
28 anos quando foi para o lago Walden, à procura de uma regeneração espiritual através da
harmonia com a natureza. Viveu lá dois anos e dois meses numa cabana que ele
próprio construiu, lendo, escrevendo e estudando a vida da floresta que o
rodeava. Publicou as suas experiências e reflexões no seu livro Walden.
Embora negligenciado em vida de Thoreau, Walden tornou-se num clássico
mundial. Passou um século e meio desde que foi
publicado pela primeira vez, no entanto, Walden continua
a atrair, a desafiar e a inspirar novos leitores.
O que motivou a “experiência” de Thoreau no Lago
Walden? Porque que não deixou de continuar a dizer tanto e tão profundamente às
pessoas ao longo destes mais de 150 anos?
Ralph Waldo Emerson, o mentor e amigo de Thoreau, tinha dado a conhecer a
este a literatura védica da
Índia antiga. Nestas obras Thoreau descobriu uma concepção da vida humana e do potencial humano que se transformou no seu ideal — nomeadamente, que a alma humana, na sua profundidade, é divina, e que esta divindade se encontra em toda a natureza. Esta tornou-se a ideia central do movimento Transcendentalista, lançado por Emerson — um movimento baseado, acima de tudo, nas experiências directas desta realidade transcendental. Henry David Thoreau foi para o Lago Walden para comungar, não tanto com a natureza exterior, mas consigo próprio — para adquirir iluminação, tal como ele a entendia a partir das suas leituras. Como escreveu a um amigo, “Dependente daquilo que, rude e descuidado como sou, eu gostaria de praticar o Ioga com afinco… Até certo ponto, e em raros intervalos, também eu sou um Iogui.” [1]
Índia antiga. Nestas obras Thoreau descobriu uma concepção da vida humana e do potencial humano que se transformou no seu ideal — nomeadamente, que a alma humana, na sua profundidade, é divina, e que esta divindade se encontra em toda a natureza. Esta tornou-se a ideia central do movimento Transcendentalista, lançado por Emerson — um movimento baseado, acima de tudo, nas experiências directas desta realidade transcendental. Henry David Thoreau foi para o Lago Walden para comungar, não tanto com a natureza exterior, mas consigo próprio — para adquirir iluminação, tal como ele a entendia a partir das suas leituras. Como escreveu a um amigo, “Dependente daquilo que, rude e descuidado como sou, eu gostaria de praticar o Ioga com afinco… Até certo ponto, e em raros intervalos, também eu sou um Iogui.” [1]
E será que alcançou o que procurava?
Mas, o que é que ele experimentou durante estes “raros intervalos” a que se
refere? Olhemos para algumas passagens da sua escrita.
Se, com ouvidos e olhos fechados,
consulto a consciência por um momento, imediatamente todos os muros e
barreiras se dissipam, a terra afasta-se de mim, e eu flutuo… no meio de um mar
desconhecido e infinito, ou então elevo-me e expando como um vasto oceano de
pensamento, sem rocha ou terra à vista, onde todas as dúvidas se dissolveram, todas
as linhas rectas fazem os seus extremos encontrar-se, a eternidade e o espaço
regozijam através das minhas entranhas. Sou do início, não conhecendo fim, nem
objectivo. Nenhum sol me ilumina, pois que eu dissolvo todas as luzes
inferiores na minha própria luz mais intensa e estável. Sou um âmago quieto na
exposição do universo…
As pessoas constantemente repetem
aos meus ouvidos as suas razoáveis teorias e soluções plausíveis do universo,
mas não há lá nunca ajuda, e eu regresso de novo ao meu oceano sem praia, sem
ilhas. [2] — Diários
Quando ele fecha os seus ouvidos e olhos e volta a sua
atenção para dentro, para além da experiência sensorial, a sua mente vai para
além das limitações – “imediatamente todos os muros e barreiras se dissipam.” A
sua consciência torna-se ilimitada, como um “mar infinito”, “um oceano sem
praia e sem ilhas”. Durante tais momentos ele descobre “todos os enigmas
dissolvidos".
Estas palavras lembram-nos a Consciência
Transcendental, o quarto estado principal da consciência, para além da vigília,
sonho e sono. Isto, Maharishi caracteriza como “a forma mais simples da
percepção humana”. A nossa mente aquieta-se no interior de si mesma, para além das
percepções e dos pensamentos e sentimentos. A consciência repousa dentro de si
mesma, desperta apenas para si própria, serena e ilimitada, um oceano
silencioso.
Eis Thoreau de
novo:
Nas minhas melhores horas, estou
consciente do influxo de uma serena e inquestionável sabedoria… Qual é esse
outro tipo de vida para que eu sou, assim, continuamente atraído? Que é a única
coisa que eu amo? .
. . Serão os nossos momentos serenos… apenas uma consciencialização daquilo que
pode ser o pleno sentido das nossas vidas?
Ser calmo. Ser sereno! Existe a calma do lago quando
não há um sopro de vento… Assim acontece connosco. Por vezes estamos claros e
calmos de forma saudável, como nunca estivemos nas nossas vidas, não devido a
um qualquer ópio, mas através de alguma obediência inconsciente às leis de toda
a justiça, de tal forma que ficamos como um lago quieto do mais puro cristal e,
sem um esforço, as nossas profundezas são-nos reveladas. Todo o mundo passa por
nós e se reflecte no nosso fundo. Tal claridade! [3]— Diários
Aqui Thoreau descreve “momentos serenos”
quando a sua mente é como “a calma do lago quando não há um sopro de vento”, “como
um lago quieto do mais puro cristal”.
Ele usa as palavras “sereno” e formas da palavra “calma” três vezes cada. Quando
descreve “o influxo de uma serena e inquestionável sabedoria”, ele sugere a
consciência pura como um estado de conhecimento puro, conhecimento puro.
Este estado surge, diz Thoreau, “através de alguma obediência inconsciente às leis de toda a
justiça”. Consciência pura, explica Maharishi, é
a fundação não só da mente, mas da própria natureza – é idêntica ao campo unificado
da lei natural. Na consciência transcendental, a mente abre-se ao campo da
inteligência ilimitada da natureza, o campo unificado de todas as leis da
natureza.
Thoreau questiona-se sobre se estes
momentos especiais são “apenas uma consciencialização transitória daquilo que
pode ser todo o sentido das nossas vidas” — por outras palavras, se este estado
poderia de alguma forma tornar-se permanente. Maharishi explica que quando
experimentamos a Consciência Transcendental, o quarto estado, numa base regular,
ela começa a coexistir juntamente com a vigília, o sonho e o sono. Ficamos
ancorados de modo permanente no nosso Ser interior, ilimitado e silencioso,
sempre desperto na nossa natureza mais íntima. Isto, explica Maharishi, é um
quinto estado de consciência, que designa como Consciência Cósmica.
Thoreau experimentou o facto de, no
nosso interior profundo, todos sermos infinitos, e que este campo interior infinito
e divino da vida está lá para todos o desfrutarem. Tal como ele nos declara:
O silêncio é a comunhão de uma alma consciente consigo
mesma. Se uma alma atender por um momento à sua própria infinitude, então e aí
está o silêncio. É audível por todos os homens, em todos os tempos, em todos os
lugares. [4] — Diários
Podemos ter esta experiência
todos os dias. Não temos que construir
uma cabana e isolar-nos da sociedade. Precisamos apenas de mergulhar no nosso interior. E para
isso, precisamos apenas de uma técnica.
Isto é o que Maharishi nos deu — uma
técnica trazida à luz a partir da tardição continua mais antiga de conhecimento
no mundo, a antiga tradição védica da Índia, a mesma tradição que inspirou Thoreau
e Emerson. Temos agora um procedimento simples e natural, que não
envolve esforço, para podermos desfrutar desta simples, natural, magnífica
experiência. É a técnica de Meditação Transcendental.
Nas últimas páginas de Walden,
Thoreau deixa-nos com este eloquente desafio e visão:
Os milhões estão despertos o suficiente
para o trabalho físico; mas só um em um milhão está suficientemente desperto para
a excelência da actividade intelectual, só um em cem milhões para uma vida poética ou
divina. Estar desperto é estar vivo. Ainda não conheci um homem que esteja suficientemente
desperto. Como poderia eu tê-lo olhado na cara?
Temos que aprender a redespertar e a manter-nos despertos, não com ajudas
mecânicas, mas através de uma expectativa infinita do amanhecer, que não nos
abandona nem no nosso sono mais profundo...
O tempo não é senão a corrente onde eu vou pescar. Bebo
nela; mas enquanto bebo, vejo o fundo de areia e percebo como está tão próximo.
A sua corrente fina vai fugindo, mas a eternidade permanece. [5]
REFERÊNCIAS
[1] Carta de Thoreau a Harrison Blake Concord, Novembro 20, 1849. Em Henry David Thoreau, Os escritos de Henry David Thoreau: Cartas Familiares, ed. F. B. Sanborn, Volume 6 (Cambridge: Houghton Mifflin, The Riverside Press, 1906), 175.
[2] Diários Seleccionados de Henry David Thoreau, ed. Carl Bode (New York: New American Library, Signet
Classics, 1960), 39-39.
[3] Henry David Thoreau: Diário de um Escritor, ed. Carl Bode (New York: Dover, 1960), 38-39.
[4] Outono e Inverno: a partir de Diário de Henry
D. Thoreau, ed. H.G.O. Blake, Con¬cord edition
(Cambridge, Massachusetts: Houghton Mifflin, Riverside Press, 1929), 435.
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