Friday, July 15, 2011

A chave para a saúde e felicidade: Um Estado ‘perdido’ da Consciência?

Escritora da David Lynch Foundation e professora de Meditação Transcendental há 25 anos
15/Jul/2011 


A vida acontece dentro do reino de três fases em mutação constante: vigília, sonho e sono. No entanto, muitos de nós intuem que há mais consciência humana para além daquilo que normalmente experimentamos.

Os cientistas afirmam há muito que cada um dos três estados principais de consciência tem o seu próprio estilo distinto de fisiologia e de actividade cerebral. Será que pode existir um quarto estado principal de consciência que, como os outros estados, tenha a sua própria assinatura fisiológica e padrão cerebral, um estado que pode ter sido até agora substimado ou esquecido?
 
E se a perda deste estado for a causa de muito do que nos apoquenta – pessoalmente e colectivamente?


Consciência Transcendental
Os ivestigadores propuseram inicialmente a existência de um quarto estado de consciência no início da década de 1970, quando cientistas da UCLA verificaram que as pessoas que praticavam a técnica de Meditação Transcendental mudavam para um estado nunca visto antes num laboratório de fisiologia. Na história da ciência, se houve algum momento de abrangência e “encontro entre oriente e ocidente”, foi certamente este. A investigação pioneira surgiu publicada nas revistas Scientific American, American Journal of Physiology e na Science 1. As conclusões foram desenvolvidas por inúmeros estudos complementares feitos noutros institutos de investigação e escolas médicas, o que estabeleceu a meditação como nova fronteira da investigação científica. 2

O estado de mente-corpo associado à prática da MT é muito diferente da vigília, do sonho ou do sono e distinto de outros estados meditativos ou de relaxação ordinária 3. Os músculos tornam-se profundamente relaxados ao mesmo tempo que a respiração abranda marcadamente. Há uma redução acentuada do cortisol e do lactato plasmático. Há um reequilíbrio natural dos bioquímicos, tal como a serotonina. Variações na resposta galvânica da pele e outros marcadores reflectem um estado de relaxamento global do corpo. Mas talvez o mais importante seja o que acontece no cérebro.

Os neurocientistas sabem que quando estamos a dormir, o nosso cérebro gera principalmente ondas delta e que, durante o sonho, emite ondas theta. Quando estamos no estado de vigília, pode existir uma mistura irregular – beta, tetha, gamma ou até alpha. Durante a prática da MT há grande quantidade de ondas alpha de grande amplitude  (10-12 Hz), o que mostra que este não é meramente um estado de repouso, mas sim um estado de repouso em alerta. 4 Mais importante, as ondas alpha sobem e descem em conjunto, em fase. Esta coerência EEG – mais forte no cortex pré-frontal – indica que o funcionamento do cérebro se tornou mais holístico e integrado. 5  

Tipicamente, durante este quarto estado, os pensamentos são minimizados e tornamo-nos progressivamente mais despertos; a mente aquieta-se e a consciência sobressai. Os meditantes descrevem  isto como consciência pura ou percepção ilimitada.

Porque Precisamos de Transcender

“Propomos que o que acontece durante a MT é um quarto estado de consciência, porque é muito diferente dos outros três estados”, afirma o neurologista Gary Kaplan, M.D., Ph.D., da New York University School of Medicine. “Ao fim de 4o anos de investigação, sabemos que a MT produz um estado único, desperto e coerente de repouso profundo - fisiologicamente, o oposto do stress. Os dados científicos  sugerem também que experimentar este estado duas vezes por dia através da MT é a chave para maximizar o bem-estar e ultrapassar o stress.”

O quarto estado pode ser uma nova descoberta para a ciência moderna, mas o conhecimento deste estado existe há milhares de anos nas tradições do ioga e da meditação. Em sânskrito antigo, este estado chama-se  turiya, o que significa “o quarto”.   

Experimentar o quarto estado repetidamente ao longo do tempo é considerado ser a chave - o intangível “estímulo de requisito”, para recorrer a William James  - para a transformação humana positiva e o pleno despertar da consciência.

Privação da Transcendência

Quando se está privado do sono, sabe-se o que acontece: o alerta, o tempo de reacção, a tolerância e a apreciação dos outros e do mundo em redor, todos diminuem. Não somos nós próprios e, provavelmente, tornamo-nos em alguém com quem é menos agradável estar.   

Similarmente, a pesquisa mostra que sujeitos privados do estado de sonho se tornam ansiosos, confusos, desconfiados, alheados, irritáveis e têm dificuldade em concentrar-se.

Se estivermos  impedidos de experimentar um natural e rejuvenescente quarto estado de consciência, qual é a consequência de omitir este estado da vida diária? O Dr. Kaplan refere: “Há uma pandemia crescente de stress. Há uma crise dos cuidados de saúde. Como nação, temos disseminadas a ansiedade, a depressão, hipertensão e desordens relacionadas com o stress que nos custam milhares de milhões de dólares todos os anos, com custos impensáveis em sofrimento humano. Isto é o que acontece quando a vida é vivida sem a experiência restauradora da transcendência. A história humana transforma-se na estória  do stress e do sofrimento.”  

Restaurar o quarto estado: um Regresso ao Ser

O que a contece às pessoas que experimentam rotineiramente a consciência transcendental?

O conhecido autor Norman E. Rosenthal foi um investigador sénior nos National Institutes of Health durante 20 anos.  É actualmente professor de clínica psiquiátrica  na Georgetown University Medical School e supervisiona testes farmacêuticos. O seu novo livro,  "Transcendence" trata do que acontece quando se experimenta o quarto estado duas vezes ao dia. O Dr. Rosenthal: “há algo sobre o facto de se entrar nesse estado de transcendência duas vezes por dia que tem um efeito assinalável.” De manhã, parece colocar a mente num estado positivo para enfrentar o dia - tudo parece mais manejável. À noite,  parece apagar os fardos acumulados do dia, como  se fossem a poeira acumulada num parabrisas. Quando desfrutamos da transcendência duas vezes por dia, todos os dias, o efeito global é experimentar a vida com menos stress e de forma mais vibrante.”

O psicólogo e instrutor de MT de Iowa,  Patrick Pomfrey,  usou a meditação como instrumento clínico durante décadas, prescrevendo-a frequentemente aos seus pacientes. Ele vê a transcendência como um mecanismo humano básico para se criar um estado de saúde da mente-corpo.  “O objectivo último da psicologia é desenvolver a pessoa total”, diz  Pomfrey. Mas não é possível desenvolver a pessoa total sem incluir a pessoa total. Para fazer isto, cada pessoa tem que descobrir por si só esta experiência perdida do quarto estado.”

Sábios ao longo da história, de Laozi a  Ralph Waldo Emerson, cantaram as excelências deste estado exaltado “perdido”. A consciência transcendental é a essência de quem somos - o nosso ser mais interior. Se não tivermos uma técnica eficaz para mergulhar profundamente no nosso interior e levar a nossa atenção até lá, então, este rico, vibrante campo de todas as possibilidades pode ficar na prática sem utilidade para nós. Uma pessoa pode viver uma vida inteira sem sequer saber que isto existe.

Despertando para este estado, acedemos a uma fonte ilimitada de energia, criatividade e inteligência. Mesmo que já fôssemos felizes, quando começamos a transcender, descobrimos que há mais vida na vida além de vigília, sonho e sono.  


Referências:

1. Scientific American, 226, 84-90, 1972; American Journal of Physiology, 221, 795-799, 1971;Science, 167, 1751-1754, 1970
2. American Psychologist [42] 879-81, 1989; Neuroscience and Biobehavioral Reviews 16(3): 415-424, 1992; The Journal of Mind and Behavior 10(4):307-334, 1989
3. American Journal of Health Promotion, 12, 297-299, 1998
4. International Journal of Neuroscience, 14: 147-151, 1981
5. Consciousness and Cognition, 8, 302-318, 1999; Cognitive Processing, 11:1, 2010

Investigador do cérebro, Fred Travis: "O cérebro Que Transcende"

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