Friday, January 01, 2010

A vida é bem-aventurança

Acabo de vir de umas compras de supermercado. Muita gente numa azáfama alegre fazendo os últimos aprovisionamentos do ano, enchendo carrinhos com bebidas várias para comemorar o Ano Novo. Vinho para a derradeira refeição (os mais pobres levavam vinho corrente, os mais remediados aventuravam-se em vinhos de nomeada, reservas, etc.), espumantes para comemorar a passagem (um homem careca alto apregoava a sua necessidade premente de um Murganheira Doce - eu prefiro o Bruto...), os "Mon Chéri" de que tanto gosto estavam no fim, mas ainda consegui uma caixa pequena. Muitos legumes, couves Penca (como lhe chamam lá no Norte, na minha terra, ou na dos meus familiares).

A azáfama das compras parece ter voltado, ainda que, possivelmente, por momentos. A crise era muito má, o pessoal ficou com medo e jogou à defesa, poupou, não comprou. A sensação parece ser a de que agora as coisas já não parecem tão mal como se faziam anteceder. O mundo não ruiu. Ainda estamos vivos, portanto, há que comprar, desfrutar, comemorar a vida que passa e que fica.

Estava tudo, muita gente, com as faces iluminadas. Sentia-se esperança e alegria no ar. Logo, a festança será de arrasar!

É bom observar esta alegria! O meu povo a sentir-se bem. Ricos e pobres (não é que eu aceite que tenha que haver pobres, antes pelo contrário). Até o rapaz cuja morada de todos os dias fica à porta do supermercado, um moço novo, inteligente, com algumas letras... mas totalmente virado do avesso pelo vício da droga, até ele, que ultimamente tenho visto a chorar àquela porta, estava de sorriso desfraldado, oferecendo-se jovialmente para levar carrinhos de compras aos porta-bagagens dos carros.

Meti-me na bicha longa, esperei enquanto gozava de toda aquela alegria no ar, paguei as minhas parcas compras de última hora (coisas para levar para a festinha em casa do irmão António) e saí para a chuva pesada que caía fora. Andei debaixo dela e do guarda-chuva até casa... parecia que voava (não, voava mesmo!) enquanto as palavras do Mestre me ecoavam sinfonicamente por dentro: "a vida é bem-aventurança"! Nunca é tarde para o descobrir. Bom Ano a Todos! 31 de Dezembro de 2009, 17h30.

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